Destinatário uterino

Cólica,

sua safada,

você fica toda saltitante enquanto eu me encolho. Minha mente não caminha. Até o ar endurece. Tudo estremece. Você é um desconforto que fica ali se escondendo entre aspas até se agarrar na exclamação, até a gente resolver desandar. Parar. Permanecer. E não fazer. Até você ficar com o ar e toda a graça.

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Essa dor marcada no calendário com data pra você acontecer todo mês não merece parabéns, mas haja bolo de chocolate para contentá-la. Não me entenda mal, não vá se atrasar de pirraça, você sabe muito bem que com isso não se brinca. E não vale dizer que te valorizo só quando você dá sinal de vida para anunciar que não tem vida crescendo em mim.

Com todo mundo é assim, logo que o desejo de consumar a vontade chega, o medo de dois corpos ocuparem o mesmo espaço vira regra sem exceção. Aquele espaço de sobra lá dentro de você é como uma coceira no céu da boca, um trem que alucina e pede para ser preenchido por aquele pedaço que tem nele. Nessa hora tudo embaça, tudo vira vidraça.

No fim das contas, essa sensação de perda de você em conta gotas, grita que a parede uterina se debate para se soltar. Esse desprendimento de sangue marca o passo de um espaço vazio, dilatado para um dia ser cheio, ser um alguém que vem de dentro.

PS: Quem disse que é preciso o desconforto para suscitar uma ação reativa ainda experimentou do que a cólica é capaz.

 

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